quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Rio de Narciso


Desculpe-me a falta de boa vontade,
minhas unhas não puderam se controlar 
em tocar e raspar e tentar rasgar
superfície tão lisa e lustrosa...

É que por aqui jamais vimos
tamanha ostentação.
Querer ser mais do que se é
não enche nossos estômagos.
Colecionar segundos, terceiros e quartos
cai bem pra quem já tem.
Quem imerge
na ausência de tempo, justiça ou moral 
tá pobre, tá velho, tá fora.

Ausentes do medo
porque quem tem medo
é quem tem.
Quem não é
não deve,
não teme.

Diáfanos da razão:
afogados e desnutridos
passamos desnecessários,
atravessamos seus cassetetes
como quem procura navalha na carne
como quem precisa viver através da morte
como quem busca transcendência nos olhares já sem norte.

A gente não cresce
mas espasma
exala suor de tanto soluçar
cala pra dar a oportunidade de falar
temos piedade porque não sabem o que fazem
temos nojo porque não querem ver que o que fazem
afeta.
Auto
afeta.
Nunca
desinfeta.
Intoxica manchando a visão
não só das personagens malfeitas de suas novelas das nove
só que  ainda do Édipo,
do filho ignorante de sua mãe ambiciosa,
de sua pátria carente de dono,
de sua terra viúva de carícia no ego
de sua raiz seca e empesteada de oportunistas.

Perdoe minhas unhas sujas ousarem
elas só pedem espaço na sua compreensão:
cavam sua máscara de marfim
para trazer de sua garganta
o que devia ter sido vertido 
há Bushes, há Vargas, há Pilatos.................

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