quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Arquivos Em Revisão

Dentro de poucas horas sensações a custo guardadas em arquivos, gavetas que cada dia mais lutavam para deslizarem a um lugar escuro e distante de seu coração, estariam de volta e clamariam pelo ar livre, pelo vento que sopraria as camadas de poeira que fizeram parte da recuperação para longe.
Temeu não por não voltar a ver as páginas idas com o sopro, mas por ficarem novamente expostas, grudadas em sua fronte impedindo, assim, a negação de sua condição.
Os amigos voltariam a perguntar se ainda não tinha superado e o sorriso amarelo refletido pelo copo vazio na mesa do bar voltaria a irritá-lo e a vontade de estar só com ela voltaria a construir mundos fantásticos em seus sonhos onde os encontros seriam cotidianos e não uma desculpa para fugir da realidade uma vez por ano.
Temeu mas teve esperança.
Esperança de que essa fosse a última vez, ou melhor, que a última tivesse sido a definitiva e que no dia seguinte pudessem aproveitar apenas como amigos. Impossível: o programa acordado era um cinema. E a idéia nem foi dela...
Correu por todos os cantos da casa procurando abrigo.
Rogou por todos os anjos procurando resolução.
Passou por todas as brisas procurando onisciência.
Calou por todos os desconsolados e concluiu que dos males o menor: dessa vez seria como sempre, mergulharia no dia eterno de amor platônico e nos outros trezentos e sessenta seguintes se vingaria dando a todas as outras mulheres o amor recíproco que nunca teria.