terça-feira, 4 de outubro de 2011

Se Rainha da Solidão Melhor Perder a Majestade


Como ex-abelha a ti me prometo
Entregando coroa, pressa e desapego
Comparados a pólen, ao vento
Para que não retornem mais!

Não preciso da majestade se a monarquia só coroa a solidão.
Da pressa só recebo menos tempo.
E o desapego é apenas arma descarregada contra o medo.

Tendo coração suficientemente forte - ainda que dramático - para conceber amor forte declaro que, se é para felicidade da nossa união, fico somente contigo e satisfeita estou, tanto com seu mel quanto com os detalhes de uma colméia inteira que só tu podes me oferecer.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Criando Raízes E Dando Sentido


  Numa distração nunca antes tão sóbria virei para o lado e percebi meu avô talvez em uma outra vida, uma outra forma mas ao menos a ideia estava lá, em cima de um trator, fumando seu cigarro e esperando fielmente o semáforo abrir. Quase que de imediato associei com meu pai naquele dia em que me levava até a escola e ia explicando e demonstrando como é que se trabalha sobre uma máquina - apesar dele sempre menosprezar tudo o que não era humano e suas "utilidades traiçoeiras" eu sabia que amava a sensação de liberdade que a moto lhe proporcionava - que devia-se sentir o meio de locomoção como parte do próprio corpo para que pudesse então confiar nele o bastante e saber como se mover em situação emergencial.
  Vendo agora me parece que só de nascer do sangue deles aprendi algo pra vida, como podem ver não aplico esse aprendizado em máquinas (exceto quando escrevo sequencias intermináveis de letras com algum sentido de meu entendimento aqui nessa placa sem vida e cheia de botões), mas com pessoas. ... É, estou rindo. Rindo da minha contradição entre pensar e transparecer. Penso sempre que entendo e sei exatamente o que fazer em situações de emergência ao meu redor mas quando se trata de mim... Negligencio-me e jogo nas mãos do Universo dizendo que tudo vai dar certo.
  Alguém recentemente me abriu os olhos para o grande erro e descaso que seria esse fazer-não-fazer se fosse predominante em minha vida. Esse alguém considero como o meu carro particular mas não é carro de madame, não... É um ônibus mega lotado de bagagens as quais não luto contra para encontrar um lugar confortável, mas mergulho e tento me abraçar ao maior número de bolsas e malas de rodinha e bicicleta e prancha e escova de dente e roupas e copos que mesmo quebrados conquistaram seu lugar ali, que portanto não serão jogados pela janela pois o tempo que levaram para se encaixar entre tantos outros objetos foi de longe muito maior que o tempo que estou aqui tentando fazer parte e fazer entender o quanto isso, mesmo que seja loucura, me é importante.
  De co-pilota não tenho nada pois ao lado do motorista há um mapa do Brasil em escala real rasgado em alguns pedaços mas que ainda é capaz de dar a direção a ele e eu, que não me sinto grande o suficiente vou pouco mais atrás para, vez ou outra ler o mapa e talvez um roteiro diferente do que ele esperava antes, mas que pode vir a dar num objetivo em comum e assim vou crescendo. Só não nego a imagem de carro particular pois sei que enquanto segue seu caminho esse ônibus se expande para dar mais espaço às coisas que trouxe comigo, tentando se revirar sem deixar cair nada do que já absorveu pela estrada, tem a esperança de que eu e minha malinha de mão tenhamos uma boa viagem sem que nos incomodemos com alguns buracos em que se enfia propositalmente, por esporte.
  Essa cena participa cada vez mais do meu tato. Participa a tal ponto que chega a desobstruir meus poros para a ciência de todo um mundo mais complexo que o que vejo da janela como um cachorro sedento por vento no focinho.
  Vendo árvores aprendo a me enraizar.
  Sentindo a brisa aprendo a não lutar contra minha própria existência.
  Apreciando a música no rádio aprendo a fazer de nossas diferenças algo válido.
  Aprendendo faço parte.
  Fazendo parte tem um porquê.
  Tendo um porquê permaneço.
  Permanecendo estamos juntos.
  Estando juntos me arrepio.
  E o arrepio... é nada mais que manifestação de vida.
  Arrepio-me e rio do motivo pelo qual comecei este curta-metragem tipografico com personagens paternas. Ele também rirá. Mas do que é que não rimos até agora? Se nada disso faz sentido um dia fará. Ao menos uma certeza.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Madrugada Fria e Reflexiva

A falta que faz até faltar o ar.
O frio que faz fremir no calor da ansiedade de que volte a me aquecer.
A respiração que faz questionar se minha mente está superoxigenada ou simplesmente parou de funcionar.
O movimento involuntário que me faz acordar no arrepio de lembrar que era só você que chegava tão perto.
O assimilar que voar e pensar são intrínsecos, desde que eu voe para tua presença e que eu pense no vento a continuar passando por entre as penas de minhas asas que no fim te envolverão ao menos mais uma vez na vida.
O escuro que revela as cores da saudade.
A luz que ofusca os olhos para obrigá-los a retornar à escuridão.
O querer voltar a te ler e sempre tentar entender cada peça sua.
As manchas de um tempo alegre que disfarçam rachaduras de um tempo agora.
A poeira que volta a invadir a casa mas que nunca fez parte de sua pele, o que mais me faria apegar a ela.
O defeito no armário que deixou-se continuar roendo mesmo com seu empenho em me agradar, sem saber que mais tarde seu conserto me desagradaria.
O desagrado de ver algo aparentemente consertado voltar a quem o danou e não ter propriedade de o impedir.
O riso contagioso e incondicional de saber que tais sentimentos não têm ligações de todo.
A solidão de saber que ninguém acreditará que não é dor e sim ferida fátua.
A solidão de saber...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ela, Somente. Ela...

Quer apenas sair pro mundo. Mas o mundo não dá espaço para ela ser alguém em seu ritmo.
Tudo a engole freneticamente veloz como já sabemos ser.
Só ela não se encaixa, não faz parte de nada disso, em sua lentidão.
Seu caminho brilhante a ser percorrido está sempre longe do que sabe alcançar. Se ela aprende algo novo, aprende também que todos ao seu redor já sabem aquilo e todo o complemento necessário para se encaixar a tudo.
Sempre precisa de mais tempo e, assim que o consegue, é preciso ainda mais.
Eis que...
Não, não acaba por conhecer novas pessoas iguais a ela.
Tampouco tem sonhos que lhe revelam o que deve fazer para descobrir o conforto.
...
Para sentada na base de um poste de luz e deixa essa angústia preenche-la até não sobrar espaço em seu corpo para outra coisa. Pela primeira vez na existência se identifica com algo: sua solidão.
Mas então que a mesma se faz escapar, vazar pelos olhos que - mesmo fechados para tentarem prolongar o momento de reconhecimento - sabem que é o fim, começam a inchar e tomar espaço maior em sua face. Seu crânio torna-se tão pequeno que pressiona seus pensamentos para algum lugar que não ali.
Num amarelo intenso tudo vira pó e ela já não pertence a uma espécie e sim ao Universo, amante dos fragmentos desconsolados e indescritos.
O vento apenas corre e leva aquilo... Como tem de ser.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Generosidade, Processo da Amargura

Nunca tinham entendido o motivo das grosserias repentinas e até certa defensiva em que se colocava Elis nalgumas ocasiões. Ela própria não tinha mais tempo de parar e pensar nisso, nunca teve.
Foi quando seu amante neurótico e imaturo, pros seus quarenta e dois anos, começou a se arrepender do vacilo do dois entre quatro paredes à sete chaves.
Ele gostava dela, prometia-lhe o mundo, a crise se deu foi pela ausência de qualquer prevenção contra uma vida bastarda.
Ao comunicá-la de que existia a possibilidade de gravidez mesmo com o coito interrompido ficou indignado em ver sua serenidade ante à situação, pensou até ser vítima de um golpe e a imaginação foi longe.
Enquanto isso pelos olhos de Elis corria um filme:
Primeiro ela pequenina no parque abraçando a coleguinha que acabara de escutar absurdos de outras crianças sobre seu tamanho.
Mais tarde procurando as palavras certas para acordar seu irmão mais velho do pesadelo de um fora depois de seis anos de namoro.
Depois, quando já tinha prática, falando e calando nos momentos convenientes ao ver sua mãe se definhar por assuntos do coração.
Agora a luz intensa a fazia franzir a testa e estava cercada pelos quastionamentos de insegurança sobre o seu próprio destino. Quis levantar e deixar tudo para trás, dizer barbaridades e jogar o foco da culpa que sentia para ele mas o grito em sua origem se fazia inalcansável.
Lembrou que considerava egoísmo um sentimento pequeno demais para arquivar na alma.
Nesse momento tinha o piloto automático ligado pois se tratava do destino de outra pessoa, tudo o que sabia fazer era tentar acalmar as tensões e mais tarde refletir melhor sobre o assunto.
Suspirou e cobriu o homem à sua frente de certezas que nem tinha par si mesma.
Guardou o impulso raivoso para outro momento, um em que alguém ao menos pudesse justificar seu sofrimento.

Diagnóstico: Parasitismo

A hipocrisia ri da minha cara. Ri debochando. Sua vida é tão miserável que, se ela não precisasse tanto de mim, diria que sente prazer em ver-me degladiando até o último suspiro de derrota.
Todas as coisas bagunçadas no meu quarto, eu juro, cada item, seria levantado com a mínima força e jogado em cima dela, calando seu riso irônico, se meus impulsos não tivessem sido domados com correntes desde o primeiro desvio de conduta. Mas também... De que adiantaria? Ela sabe que ainda tem o domínio dobre tudo ao seu redor. E eu... Eu ainda sou menor que meus sonhos, não domino nem mesmo minha determinação, a qual aparece apenas na impaciência que também está sempre sob uma pilha de regras. Essa torna-se cada dia maior e mais pesada prejudicando também minha postura: já não ando mais como antigamente.
E meus dias tornam-se cada vez mais longos...
E eu não posso nem me gabar disso pois, se depender da sociedade, é temporário...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Arquivos Em Revisão

Dentro de poucas horas sensações a custo guardadas em arquivos, gavetas que cada dia mais lutavam para deslizarem a um lugar escuro e distante de seu coração, estariam de volta e clamariam pelo ar livre, pelo vento que sopraria as camadas de poeira que fizeram parte da recuperação para longe.
Temeu não por não voltar a ver as páginas idas com o sopro, mas por ficarem novamente expostas, grudadas em sua fronte impedindo, assim, a negação de sua condição.
Os amigos voltariam a perguntar se ainda não tinha superado e o sorriso amarelo refletido pelo copo vazio na mesa do bar voltaria a irritá-lo e a vontade de estar só com ela voltaria a construir mundos fantásticos em seus sonhos onde os encontros seriam cotidianos e não uma desculpa para fugir da realidade uma vez por ano.
Temeu mas teve esperança.
Esperança de que essa fosse a última vez, ou melhor, que a última tivesse sido a definitiva e que no dia seguinte pudessem aproveitar apenas como amigos. Impossível: o programa acordado era um cinema. E a idéia nem foi dela...
Correu por todos os cantos da casa procurando abrigo.
Rogou por todos os anjos procurando resolução.
Passou por todas as brisas procurando onisciência.
Calou por todos os desconsolados e concluiu que dos males o menor: dessa vez seria como sempre, mergulharia no dia eterno de amor platônico e nos outros trezentos e sessenta seguintes se vingaria dando a todas as outras mulheres o amor recíproco que nunca teria.