sábado, 19 de fevereiro de 2011

Generosidade, Processo da Amargura

Nunca tinham entendido o motivo das grosserias repentinas e até certa defensiva em que se colocava Elis nalgumas ocasiões. Ela própria não tinha mais tempo de parar e pensar nisso, nunca teve.
Foi quando seu amante neurótico e imaturo, pros seus quarenta e dois anos, começou a se arrepender do vacilo do dois entre quatro paredes à sete chaves.
Ele gostava dela, prometia-lhe o mundo, a crise se deu foi pela ausência de qualquer prevenção contra uma vida bastarda.
Ao comunicá-la de que existia a possibilidade de gravidez mesmo com o coito interrompido ficou indignado em ver sua serenidade ante à situação, pensou até ser vítima de um golpe e a imaginação foi longe.
Enquanto isso pelos olhos de Elis corria um filme:
Primeiro ela pequenina no parque abraçando a coleguinha que acabara de escutar absurdos de outras crianças sobre seu tamanho.
Mais tarde procurando as palavras certas para acordar seu irmão mais velho do pesadelo de um fora depois de seis anos de namoro.
Depois, quando já tinha prática, falando e calando nos momentos convenientes ao ver sua mãe se definhar por assuntos do coração.
Agora a luz intensa a fazia franzir a testa e estava cercada pelos quastionamentos de insegurança sobre o seu próprio destino. Quis levantar e deixar tudo para trás, dizer barbaridades e jogar o foco da culpa que sentia para ele mas o grito em sua origem se fazia inalcansável.
Lembrou que considerava egoísmo um sentimento pequeno demais para arquivar na alma.
Nesse momento tinha o piloto automático ligado pois se tratava do destino de outra pessoa, tudo o que sabia fazer era tentar acalmar as tensões e mais tarde refletir melhor sobre o assunto.
Suspirou e cobriu o homem à sua frente de certezas que nem tinha par si mesma.
Guardou o impulso raivoso para outro momento, um em que alguém ao menos pudesse justificar seu sofrimento.

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