domingo, 26 de setembro de 2010

O Romântico E A Malandra

Parte da ilustração de Damaride Marangelli *

  Neblina. Altos gritos de ebriedade. Minha pele é atritada pelo calor. Ela entra. Não resisto à magnitude do seu olhar. Os resquícios do jogo nada aristocrático em minha mão logo são detectados por seu radar. Lança a mim um sorriso que prejulguei ser falso-modesto. Só mais tarde saberia que esse ainda pode significar "Também sou malandra, também posso olhar nos seus olhos e exclamar 'seis' descarada mesmo que elegantemente". O sinal é dado. O fechamento das portas efetuado.
  Ela dá as cartas e vira o 3.
  3...6...9...12...
  12 são as unidades de tempo melhor aproveitadas naquela noite. Finalmente algo me motivara a arriscar levar um não em busca do famoso sim, algo tão forte quanto seus lábios vermelhos e seu olhar de amor livre. Graças à força da minha natureza arrisquei e a levei.
  A casa dos meus pais foi o destino: a informação das férias em Paris nunca me parecera tão positivamente emocionante.
  No quarto, neblina. Altos gritos de libertinagem. Nossas peles são atritadas pelo calor. Eu entro. Eu saio. Entro para me banhar. Saio para tomar um ar... Entro e gozo. Ela manda, eu fico. Fico e pressiono. Ela não resiste ao paraíso em meu olhar e vem comigo. Malandra. Lança a mim um sorriso de falsa dependência: gostaria que isso pudesse significar "Também tenho momentos de fragilidade". A hora é lembrada pelo despertador... Meus sussurros de saudade e pesar são divididos com a porta escancarada.
  A vida dá as cartas e vira a dama.
  Dama que esgotou todo o meu ardor naquela noite. Finalmente choro lágrimas de amor em vez do corriqueiro vazio. Amor tão louco quanto sua voz maliciosa em meu ouvido ou seu cabelo leonino jogado aos pés da cama. Por culpa da minha solidão e autopiedade me exaltei, não aguentaria vê-la partir.
  A casa dos meus pais foi o cenário, a informação de um assassinato nunca seria positivamente recebida. Decidi me juntar à ela. Funguei o aroma de seu colo materno, cravei meus dentes em sua nuca ainda morna. Morri. Morri de amor; porque é isso que fazem os românticos.

*Blog da ilustradora se encontra nas minhas referências logo aí à sua direita!

2 comentários:

  1. Obrigado, você é muito gentil! É muito interessante o que você escreveu, sinto-me honrado! Atenciosamente muito, obrigado.:-)

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  2. Fiz um post para anunciar a história que você escreveu.Saudações!!

    http://damaride.blogspot.com/

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